quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Se alguém lê esse blog, saiba que não postarei aqui até, pelo menos, o dia 12 de fevereiro. Estou viajando e, nesses últimos dias, não tive muita inspiração para escrever pensando em meus vestibulares hahauhauah. ;D

Mas quando voltar, pretendo escrever um texto sobre o PNDH-3. Acho um tema muito interessante, pensarei no assunto enquanto viajo.!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Viver é transcender.

Vou escrever sobre um tema que já venho pensando há um tempo. Este será um texto com conteúdo um pouco mais "filosófico", contemplativo. Sei que, nas últimas postagens, afastei-me do estilo de escrever de quando comecei o blog. Mas agora tentarei voltar um pouco a minha essência. Afinal, é sempre bom poder voltar.

O início da vida sempre foi e será (pelo menos eu espero que sim) o grande mistério. Não vim aqui para dissertar sobre as diversas correntes que explicam este fenômeno, mas para falar o que é, para mim, o sentido da palavra "viver". A primeira significação que consta no dicionário Aurélio é: "Ter vida; estar com vida; existir." Uma definição muito simplista, que não traz a grandiosidade de sentido presente neste pequeno verbo de apenas duas sílabas. Todos existimos, mas pouco vivemos, como diz Oscar Wilde: "Viver é coisa rara. A maioria das pessoas apenas existem". A frase não poderia ser mais perfeita. Viver é muito mais que existir e ter as necessidades biológicas atendidas. Viver é transcender.

O homem, diferentemente de outros seres vivos, tem desejos, sonhos, dúvidas. E são esses anseios, essas incógnitas que nos movem. A noção de que a vida é curta é o que nos faz ter tantos sonhos e desejos. Queremos realizar projetos, ser felizes, livres, sentir aquela brisa gentil na face e deixa o cabelo esvoaçar. Mais que isso, procuramos ultrapassar barreiras, esforçamo-nos ao máximo para fazer aquilo que, outrora, era impossível. O desejo de realizar sonhos faz com que nos sintamos encorajados a ir além, até o limite de nossa capacidade. O homem quer estabelecer marcas, recordes. Criamos utopias para tentar alcançá-las, mesmo sabendo que são impossíveis. Porém, o fato de serem irrealizáveis faz com que nos sintamos ainda mais estimulados. É nossa grande ambição, que é tão saudável e motivadora.

Contudo, não podemos focar somente em nossos desejos pessoais. Imprescindível para aquele que vive, tanto quanto o oxigênio, é criar relações interpessoais. Faz parte de nós querer conhecer o próximo. Precisamos de alguém para nos dar colo, carinho, afeto, e até mesmo para ter desavenças. Amigos são tão importantes. Uma amizade saudável nos torna uma pessoa melhor; acreditem, sou uma prova disso. Aliás, conhecer o semelhante é o início de todo o processo criativo. É a partir desse processo de comunicação e intercâmbio com o outro que se criam símbolos, instituições, metas, constroem-se sonhos em castelos de pedra. "É impossível ser feliz sozinho" dizia, sabiamente, Tom Jobim. Aquele que é só não vive, apenas existe.

Ter vida é tão bom, tão milagroso, prazeroso. Infelizmente há os que não conseguem enxergar isso. Mas existe tanta alegria e felicidade no mundo, basta descobrir onde reside a de cada um. Ver cores, tanger, tocar, sentir texturas e experimentar matizes variadas é tão fantástico. Poder sorrir, mesmo que disfarçadamente, dá-nos prazer e uma alegria imensa, indescritível. Olhar as flores coloridas no campo e aspirar o perfume que delas exala é magnífico. Ah, chorar, sentir a lágrima cair do rosto...Momentos que palavras, imagens nunca conseguirão captar a essência e a grandiosidade, porque expressam o esplendor da condição humana. Mas o melhor de tudo é saber que estes momentos são fugazes, e que a vida é demasiadamente curta. A idéia de eternidade é assustadora, viver seria entediante se não durasse tão curto espaço de tempo.

Ter algo para se apegar, idolatrar (sem fanatismo) é, também, fonte de prazer. Trabalhar, ser independente e mais livre dá a sensação de sermos mais plenos, realizados. Isso é viver. A dor, o sofrimento, a felicidade, a liberdade, a brisa, a flor, o perfume, as texturas, tudo maravilhosamente (de)ordenado, misturando-se em matizes diversas e belas. Quero transcender; ser jogado ao vento e ao mar, e poder sorrir. "Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…/ Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,/
que a vida é bela sim,/ e que eu sempre dei o melhor de mim… /e que valeu a pena."

sábado, 16 de janeiro de 2010

"Liberdade é pouco..."

"Liberdade, essa palavra/ que o sonho humano alimenta/ que não há ninguém que explique/ e ninguém que não entenda." Com estes versos, Cecília Meireles deixou-nos muito no que pensar. Talvez essa seja a melhor definição que se tenha dado à palavra liberdade. O dicionário é muito simplista no significado de algo tão grande. A busca pelo ideal da liberdade moveu e continua movendo a história da humanidade. A Revolução Francesa, movimento essencialmente burguês, ocorrida em 1789, é o episódio que melhor representa a luta pelo desejo de ser livre. A queda da Bastillha, o uso da guilhotina como símbolo de libertação foram marcantes. Saímos do século XVIII, e chegamos ao século XXI, no ano de 2010, e, mesmo após tanto tempo, tantas lutas, ainda não somos livres. Afinal, o que é ser livre?

É muito comum associarmos a idéia de ser livre, de ter liberdade, ao de independência. Bem, o Brasil é, desde 1822, politicamente independente. A nossa emancipação política não trouxe liberdade. Para validar a afirmativa anterior basta citar que a escravidão perdurou até 1888 (mentira, existe até hoje, mas...). E depois, quando o regime escravocrata acabou, ficamos livres? Obviamente não. Continuamos dependentes do capital estrangeiro. E hoje que temos a dívida externa paga, somos livres? Não. A liberdade plena nunca será alcançada. É um projeto irrealizável, uma utopia. E por quê? Porque necessitamos de leis que regulamentem nossa vida em sociedade. Necessitamos de limites, caso contrário, viveríamos no caos eterno.

Sinceramente, não consigo conceber uma sociedade vivendo em harmonia sem um conjunto de regras que regulamentem a vida do indivíduo em conjunto. Se hoje, mesmo tendo uma Constituição Federal e um enorme código de leis; a situação é caótica, imagine se todo esse aparato não existisse. Deixaríamos os nossos instintos primitivos aflorarem? Mataríamos por comida? Poderíamos roubar? O ser humano ao mesmo tempo em que anseia por liberdade necessita de limites e privações que são essenciais.

O problema é que, além desses limites e privações que nos são imprescindíveis, criou-se um certo padrão repressivo. E esse sim nos tira a liberdade. Os homens tem de malhar e ter um corpo cheio de músculos. As mulheres têm de se alimentar do vento, ficar demasiadamente magras. Temos de falar o português apresentado na Gramática Normativa, pois este é símbolo de prestígio. Temos de nos vestir de tal maneira, porque se não for assim, estamos feios. Temos de consumir a inutilidade. Temos de beber antes da idade permitida, fazer sexo cedo, fumar uma maconhazinha, e uma série de outras coisas. Ou fazemos isso, ou somos excluídos. E ninguém quer se sentir desprezado, então, a única solução é se render a esse padrão.

É a ditadura da contemporaneidade, não muito diferente daquela que acometeu nosso país e tantos outros da América Latina na década de 1960. A diferença é que dessa vez não lutamos contra o "inimigo vermelho do Comunismo". Dessa vez não prendemos, torturamos, exilamos ou matamos aqueles que se opõem; mas simplesmente os excluímos, olhamos com desprezo e repressão. Se desejamos a liberdade, para que criarmos tantos padrões inúteis? Será que a única liberdade que queremos é a de imprensa? Que, aliás, está cada vez pior aqui na América Latina, onde uma onda de chavismo e bolivarianismo tem se espalhado. A liberdade de credo não é respeitada, o que se vê é um degladiação entre as religiões. Cristãos condenam as práticas do candomblé, judeus e mulçumanos morrem em guerras são exemplos clássicos. Eu ainda me pergunto, existe uma instituição que tolhe mais a liberdade que a própria Igreja? Ao meu ver, não há. Para mim, Igrejas e Templos protestantes são antros de corrupção, intolerância e terrorismo (sim, estou generalizando mesmo). Basta lembrar que setores da Igreja Católica apoiaram o golpe militar ocorrido aqui em 1964. E para piorar, onde estava o moralismo católico durante a Segunda Guerra Mundial? E que os protestantes não fiquem cheios de si, a religião de vocês é tão corrupta quanto a católica. Cheia de falsos moralismos e pensamentos ridículos que eu prefiro nem citar.

Liberdade é algo inatingível. Há quem diga que os pássaros são livres e seu vôo simbolize esse ideal. O problema é que aves não têm consciência do que seja liberdade. Voam por uma necessidade biológica. Mas a imagem e sua simbologia são perfeitas, não nego. Outros dizem que somente loucos são livres. Discordo. Esses estão tão presos em sua própria loucura que não poderiam nunca o ser. Cheguei ao final do texto e não respondi a minha pergunta inicial: "afinal, o que é ser livre?". Nunca poderei dar uma resposta, mas deixo aqui o que penso: cada um é tão livre quanto acredita sê-lo.


Ah, quanta vez, na hora suave

Ah, quanta vez, na hora suave
Em que me esqueço,
Vejo passar um voo de ave
E me entristeço!

Porque é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Porque vai sob o céu aberto
Sem um desvio?

Porque ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?
Sei que me invade

Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia
Meu coração, e entorna sobre
Minha alma alheia

Um desejo, não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei quê do voo suave
Dentro em meu ser.

Fernando Pessoa.

sábado, 9 de janeiro de 2010

The bluest eyes in Texas.

Assisti, nesses últimos dias, 3 filmes que me inspiraram a escrever este texto. O primeiro que vi foi O Corcunda de Notre-Dame, depois Crash e por último Meninos não choram. Quem já assistiu aos filmes deve ter uma idéia sobre o que escreverei. Sei que é um tema bastante clichê, mas eu quero deixar minha opinião mesmo assim.

É incrível perceber que em plena contemporaneidade, no século XXI, época em que máquinas se assemelham a humanos, ainda exista tanta intolerância e horror ao outro. Cada um tem seu próprio preconceito, é um fato inconteste; porém aterrador. Temos aversão à diferença. Não gostamos de nada que fuja da "normalidade". Existem aqueles que acham estranho o deficiente mental, dizem que é uma aberração. Já outros não gostam de negros, falam que são seres inferiores, com capacidade mental reduzida, e os jogam na vala comum, achando que todos são criminosos. Têm aqueles que possuem verdadeira aversão a grupos homossexuais, eu, por exemplo, já ouvi vários colegas falarem que é um nojo ver dois homens ou mulheres se beijando, e que gays são anomalias e merecem ser banidos da sociedade. E os preconceitos não acabam por aqui, estes acima citados são um pequeno exemplo.

Aí vemos que lutamos por tantas liberdades, mas não a temos verdadeiramente. Como podemos ser livres se tememos o que o outro pensa de nós? O deficiente mental tem de ficar em casa porque na rua as pessoas vão olhar e comentar o quão "bizarro" é. O negro não pode ser negro, ele tem de negar a sua cor, falar que é moreno escuro, mas nunca negro. O homossexual não pode assumir sua opção sexual, tem de escondê-la, porque é "pecaminoso" se relacionar com alguém que se ama se essa pessoa for do mesmo sexo. É tudo uma teia de falsas liberdades. Temos de ficar em nosso campanário, escondidos, pois o mundo lá fora é cruel. Ninguém que ser vítima de um ato de intolerância, por isso não podemos ser o que realmente somos; entre o "ser ou não ser", melhor não ser. Melhor não ter identidade própria. Neguemo-nos. Sejamos um vazio existencial. Uma ode a isso!

E de onde será que vem essa intolerância que nos tira a liberdade de sermos felizes? É algo que está intrínseco a nós? Cada pessoa nasce com um tipo de aversão ao semelhante? Aversão tão grande que é capaz de cegar e fazer com que não enxerguemos que aquele outro é também humano, que sente fome, frio, calor, dor? Uma vez, André Petry escreveu uma frase muito interessante: " [...] seres humanos não diferem de coisas só porque são um fim em si mesmos. Os seres humanos diferem das coisas porque, além de tudo, têm dignidade. As coisas têm preço." Concordo plenamente. Não somos objetos, coisas. Não temos preço. Somos seres que têm sonhos e anseios. Viver é, também, saber sofrer, mas não precisamos que alguém nos discrimine. Bastam as desilusões que temos diariamente.

Portanto, sejamos um pouquinho mais tolerantes e, assim, merecedores de nossa classificação como seres pensantes, seres humanos. Sei que esses preconceitos estão sendo desconstruídos. Os Estados Unidos, maior potência econômica do globo, que até a década de 1960 havia regime de segregação racial, elegeram um presidente negro. A Disney lançou recentemente um filme no qual a protagonista é uma negra do subúrbio de Nova Orleans. Alguns países já legalizaram o casamento gay, e casais homossexuais conseguiram realizar adoções. Mulheres são eleitas chefe de Estado com maior freqüência e conseguem empregos em ramos que eram exclusivamente masculinos. Contudo, essas mudanças ocorrem muito lentamente, ainda. A mentalidade conservadora de alguns e certas instituições impedem que o processo de desconstrução aconteça de forma mais rápida. Enquanto isso temos de viver em um canto escuro, onde podemos ficar imperceptíveis.

obs: Peço desculpas para aqueles que lêem o blog, se é que alguém o lê, pelo texto super clichê e entediante. Não pretendo escrever mais sobre esse assunto.


Ainda assim, eu me levanto

Você pode me riscar da História
Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui
Riquezas dignas do grego Midas.

Como a lua e como o sol no céu,
Com a certeza da onda no mar,
Como a esperança emergindo na desgraça,
Assim eu vou me levantar.

Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
Minh'alma enfraquecida pela solidão?

Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim.

Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.


Minha sensualidade incomoda?
Será que você se pergunta
Porquê eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam?

Da favela, da humilhação imposta pela cor
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.

Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.

Maya Angelou.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Antieuclidiana, uma orquídea forma-se.

Enfim rompemos o ano de 2009, e 2010 chegou, trazendo consigo a renovação de nossas esperanças, como se tudo o que aconteceu ano passado se dissolvesse. As lágrimas derramadas, as misérias, as tragédias presenciadas, os escândalos políticos, as crises sociais e financeiras, tudo isso se desfaz, e emerge aquela sensação de que este novo ano será diferente. O Brasil finalmente vai dar certo. Inflamos o peito de orgulho! Fazemos promessas, renovamos os desejos e a esperança brilha em nossos olhos. Só que o ano passa, e vemos que tudo aquilo que era "festa" se acaba.

Acabam os sonhos de que neste ano as coisas seriam melhores, de que, enfim, iríamos nos livrar da corrupção que assola este país, de que as pessoas teriam um pouquinho mais de dignidade, de honestidade e seriam menos mesquinhas e egoístas. Mas o que acontece é o inverso: o meio-ambiente continua a ser destruído, as diferenças e preconceitos aumentam, a liberdade diminui, a violência continua apavorando e o povo sofrendo. Ah, este povo sofredor e esperançoso que é o brasileiro.

Somos o país da esperança. Nunca a perdemos, e, quando ela parece estar se apagando, vem o esporte nacional salvador: o futebol. Conquistamos mais um título, mais uma Copa, somos os melhores! Todos os problemas parecem sumir. Não há mais fome, miséria, violência, preconceito, não há mais nada. E o povo brasileiro se orgulha de não ter mais nada, porque o nosso bom e velho salvador da pátria teve mais uma conquista. Agora, estamos ainda melhor.Vamos sediar uma Copa do mundo e uma Olimpíada! O que mais poderíamos querer? O Brasil é o futuro, "ninguém segura este país". Batemos no peito com aquele nacionalismo ufanista para falar: "Sou brasileiro". Tudo é maravilhoso, o Rio de Janeiro continua lindo, continua sendo...Temos a Cidade Maravilhosa!

O pedinte do semáforo, a criança que morreu por inaninação na rua, o assaltante, o traficante, o desonesto, todos eles viram pó e são varridos pelo vento. Nada mais nos importa. Nossas esperanças estão renovadas. Afinal, é uma Copa do mundo em território nacional. Ora, não sejamos assim tão cegos. Na verdade, não somos cegos; simplesmente tapamos os olhos para aquilo que é incômodo. Criamos um grande muro para tapar nossa visão, e o enfeitamos com desenhos de giz, coloridos e utópicos. Aí não precisamos ver que do outro lado o muro está pichado em cores mortas, que há alguém já sem esperança, sem comida e sem dignidade; que deixou de ser humano em sua essência. Mas nisso não pensamos, é indigesto. Melhor pensar que em 2010 o Brasil ganhará pela sexta vez um troféu. Assim podemos dormir melhor à noite enquanto o outro morre, lentamente.

Por isso, inicio o ano de 2010 dessa forma: com um pé na utopia e o outro na realidade. Estou esperançoso, embora cético e irônico. Penso que podemos ser melhores em nossa individualidade, ser mais dignos, mais honestos, mais bondosos. Podemos acabar com alguns medos e preconceitos pessoais, deixar de ter aversão ao próximo. Desconstruir o muro de utopias, limpando cada desenho colorido levemente com um pano, descolorindo-o pouco a pouco. Depois pintamos o lado pichado, com pinceladas delicadas e leves, para em seguida derrubá-lo. E assim teremos um ano de 2010 recheado de sonhos, de esperanças e acontecimentos agradáveis.


Deus,
eu faço parte do teu gado:
esse que confinas em sonho e paixão,
e às vezes em terrível liberdade.
Sou, como todos, marcada neste flanco
pelo susto da beleza, pelo terror da perda
e pela funda chaga dessa arte
em que pretendo segurar o mundo.
No fundo, Deus,
eu faço parte da manda
que corre para o impossível,
vasto povo desencontrado
a quem tanges, ignoras
ou contornas com teu olhar absorto.
Deus,
eu faço parte do teu gado
estranhamente humano,
marcado para correr amar morrer
querendo colo explicação, perdão
e permanência.

Lya Luft.