domingo, 14 de fevereiro de 2010

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A contemporaneidade é fantástica. Vivemos a terceira fase da Revolução Industrial. As finanças e os meios de comunicação imperam na pós-modernidade. A rapidez e a flexibilidade marcam a nossa vida. O espaço de 24 horas que marca a duração de um dia tornou-se pequeno. É neste panorama que o homem contemporâneo, ou seja, nós mesmo, nos encontramos. Contudo o progresso que veio com a revolução técnico-científica-informacional trouxe, inevitavelmente, o vazio existencial. Há uma ruptura nas relações interpessoais, e o sentimo-nos cada vez mais ocos.

A verdade é que a vida tornou-se rápida demais. Pior, perdemos o controle que tínhamos sobre nossas vidas. As máquinas nos dominaram, e passamos a viver de maneira acelerada. Não há mais tempo para o lazer nem para fazer amizades. Trabalhar e ganhar dinheiro é o que importa, mesmo que isso custe sacrificar momentos de felicidade. Afinal, tais momento tornaram-se praticamente inúteis. A prioridade é ser bem sucedido no trabalho. Família, amigos, religião, lazer transformaram-se em obstáculos na longa caminhada ao sucesso profissional, pois necessitam de atenção. E no diminuto tempo que temos não há espaço para "encaixar" essas peças.

Toda esta conjuntura levou a uma quebra nas relações interpessoais. O computador, símbolo máximo da sociedade contemporânea, reforça este afastamento entre as pessoas e aumenta a sensação de vazio. É um verdade inconteste. Até mesmo dentro de casa, familiares agora se comunicam por mensagens instantâneas via internet. Deixamos de sair à rua para socializarmo-nos, ficamos em casa frente a um computador ou aparelho televisor. Sentimos falta de calor humano, mas não o procuramos. E o nosso espaço em branco aumenta. O mais aterrador é que tentamos preencher essa grande lacuna participando de sites de ralacionamento, o que nem de longe são capazes de substituir o contato olho a olho. Simplesmente criam a falsa idéia de que temos amigos, mas eles são virtuais e estão do outro lado do monitor. Viramos fantasmas cibernéticos.

Aí, como solução para o problema, vende-se o sexo. Claro, o sexo promove o contato entre as pessoas. Transamos com desconhecidos para suprir uma necessidade biológica, não há sentimentos envolvidos. Sexo virou banal. Temos de praticá-lo porque é essencial à vida. Mas tem de ser rápido e com o mínimo de envolvimento possível. Neste mundo tão aterefado não há espaço para sexo com amor ou algum tipo de relacionamento. Os relacionamentos são quase uma adversidade na longa estrada que tentamos desesperadamente chegar ao fim e encontrar o reconhecimento profissional. Os laços de homem a homem foram desfeitos e parecem impossíveis de se reatarem. As relações são cada vez mais perfunctórias. E nosso grande vazio aumenta, e sentimos fome.

Fome? Sim, fome. Fome amor, carinho, calor, amigos. Fome de viver. De poder se divertir sem sentir-se culpado por estar "desperdiçando" tempo. De poder procurar alguém para se estabelecer uma amizade saudável, que não seja marcada por interesses profissionais. De ter alguém para abraçar quando chegar a casa. Temos até mesmo fome de dignidade. Nossa vida perdeu o sentido, lançamo-nos em uma fossa abissal. Uma grande melancolia marca o homem contenporâneo. Temos nostalgia do tempo em que os amigos se reuniam nas ruas; na verdade, somos saudosos do tempo em que se existiam amigos, em que trabalhar era bom e divertido, mas não uma obrigação muitas vezes entediante. Temos saudade do tempo em que o mundo não era uma grande esfera cibernética e que para se comunicar com quem estava distante era necesário mandar carta, porque assim a mensagem era muito mais pessoal e carinhosa. E-mails são vazios, assim como é a contemporaneidade. Até mesmo as artes são sem significado. Tornamo-nos em um grande parêntesis, e o pior, sem nada escrito dentro.


Primeiro Motivo da Rosa

Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.

Meus olhos te ofereço:
espelho para face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.

Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho... E frágil.

Cecília Meireles.

3 comentários:

  1. Esse vazio é inerente ao ser humano. A angústia de não termos respostas e sentidos pra tudo. A pós-modernidade promete o fim desse vazio. Incentiva o consumismo, a rapidez, o não-sofrimento, a eterna juventude e beleza. E esses mecanismos de fuga pra não encarar o vazio nos torna superficiais, transforma as relações em objetos descartáveis. Ao negar que somos seres faltantes, e que essa falta é que produz conhecimento, arte, cultura. Nos tornamos isso: ocos.

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  2. MENTIRA QUE ESSE BLOG É TEU O.O

    Eu lendo ele tanto, já tinha lido quase todos os posts, chega coloquei nos favoritos, e agora descubro que esse blog é TEU????

    Por um lado acho isso bom, e pelo outro acho ruim... Mas deixa isso pra lá. Continue com seus posts, que são os melhores posts que eu já li em todos os blogs. Você é muito inteligente, tem os melhores argumentos. Isabela estava certa, você é demais.

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