Eis que nesses tempos gloriososos de Copa - quando as obrigações cessam temporariamente e há tempo suficiente para se dedicar ao ócio -, encontro-me em casa, assistindo a filmes que, devido à atribulada vida de estudante e estagiário (obs: não sei se isso é uma ironia), não pude ver no cinema. É então que chega o momento de "Blue Jasmine" que, segundo minha irmã, é a versão moderna da peça 'Um Bonde Chamado Desejo' - e, realmente, o é.
Obviamente, não vim aqui tecer uma crítica cinematográfica, afinal sequer sou um cinéfilo e há milhões de outros blogs com pseudo-entendidos do assunto para isso. Sendo aqui um espaço "pessoal e íntimo", vim me lamuriar em praça pública. Pois bem, daí que assisti ao filme, fiquei impressionado com a ótima atuação de Cate Blanchett, amei a trilha sonora etc.. O filme acaba e fico com aquele pensamento 'nossa, quero a vida de Jasmine!'. Logicamente, não atual vida de Jasmine, quando todas agruras do mundo despencam sobre a personagem, até porque, como dizia a saudosa Bessie Smith, 'Nobody knows you when you're down and out'. Bem, quem não gostaria de ter a vida preenchida de momentos prazerosos, repleta de tudo que se pode ter da melhor qualidade? Um marido aparentemente perfeito, casa harmoniosa e bem decorada, bons restaurantes, boas roupas, ótimos amigos... Como costumo dizer: "uma vida de gastos".
Passam alguns dias e, sim, vivo na fantasia de que vou encontrar a vida ideal - a vida de Jasmine. Então, em pseudo-crise de menino burguês que sequer tem o trabalho de passar marchas num carro, ocorre-me um surto! 'Não, Ítalo, você jamais terá essa vida. Em verdade, nem mesmo terá a vida que você leva agora'. Acendo um sinal vermelho para mim mesmo. Tudo certo, consigo lidar com isso, acho.
Mais alguns dias vão passando e, então, mais crises: seus paquerinhas não querem mais ficar com você. Repito para mim mesmo 'everything comes to an end, darling'. Tudo bem, se vivi tantos anos sem eles, não é agora que vou desmoronar. 'Get a life', outros virão (ou não), mas há sempre algo mais importante para se fazer da vida. Muito mais preocupante é saber que não terei a vida de Jasmine.
Quando acho que realmente estou bem, vem o golpe final: realizo que não, não gosto de meu curso. Não gosto das matérias nem dos professores, não gosto da faculdade nem do 'clima' que paira sobre a FDUFBa. Daí, dou-me conta de que também não gosto do estágio, aquilo parece enfadonho e tediante, repetitivo e nem um pouco criativo. CRISE! CRISE! O que fazer quando, no 7º semestre - quase aos 45 do segundo tempo - descobrimos que não gostamos daquilo que, em tese, escolhemos para viver? Ihhh, tudo muito complicado, ligo para amigos e até familiares (que não ajudam em muito). Afinal, como levar a sério uma pessoa que entra em crise e fala que o motivo é: "amiga(o), já viu Blue Jasmine? Então... queria a vida dela antes da pobreza... aah, e não gosto de meu curso também... na verdade, nem quero trabalhar, acho ruim. Quero ficar em casa, organizar festas. Sabe o que realmente quero? UMA VIDA DE GASTOS!"
Ao retornar a meu eu-sereno, tenho a impressão... na verdade, a certeza de que isso é apenas a vida real batendo à porta para me avisar que meus dias de adolescência estão acabando. Torrnar-me-ei adulto e ninguém me preparou para isso... Ser adulto é muito chato!
Coisos
Há 10 anos
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