sábado, 9 de janeiro de 2010

The bluest eyes in Texas.

Assisti, nesses últimos dias, 3 filmes que me inspiraram a escrever este texto. O primeiro que vi foi O Corcunda de Notre-Dame, depois Crash e por último Meninos não choram. Quem já assistiu aos filmes deve ter uma idéia sobre o que escreverei. Sei que é um tema bastante clichê, mas eu quero deixar minha opinião mesmo assim.

É incrível perceber que em plena contemporaneidade, no século XXI, época em que máquinas se assemelham a humanos, ainda exista tanta intolerância e horror ao outro. Cada um tem seu próprio preconceito, é um fato inconteste; porém aterrador. Temos aversão à diferença. Não gostamos de nada que fuja da "normalidade". Existem aqueles que acham estranho o deficiente mental, dizem que é uma aberração. Já outros não gostam de negros, falam que são seres inferiores, com capacidade mental reduzida, e os jogam na vala comum, achando que todos são criminosos. Têm aqueles que possuem verdadeira aversão a grupos homossexuais, eu, por exemplo, já ouvi vários colegas falarem que é um nojo ver dois homens ou mulheres se beijando, e que gays são anomalias e merecem ser banidos da sociedade. E os preconceitos não acabam por aqui, estes acima citados são um pequeno exemplo.

Aí vemos que lutamos por tantas liberdades, mas não a temos verdadeiramente. Como podemos ser livres se tememos o que o outro pensa de nós? O deficiente mental tem de ficar em casa porque na rua as pessoas vão olhar e comentar o quão "bizarro" é. O negro não pode ser negro, ele tem de negar a sua cor, falar que é moreno escuro, mas nunca negro. O homossexual não pode assumir sua opção sexual, tem de escondê-la, porque é "pecaminoso" se relacionar com alguém que se ama se essa pessoa for do mesmo sexo. É tudo uma teia de falsas liberdades. Temos de ficar em nosso campanário, escondidos, pois o mundo lá fora é cruel. Ninguém que ser vítima de um ato de intolerância, por isso não podemos ser o que realmente somos; entre o "ser ou não ser", melhor não ser. Melhor não ter identidade própria. Neguemo-nos. Sejamos um vazio existencial. Uma ode a isso!

E de onde será que vem essa intolerância que nos tira a liberdade de sermos felizes? É algo que está intrínseco a nós? Cada pessoa nasce com um tipo de aversão ao semelhante? Aversão tão grande que é capaz de cegar e fazer com que não enxerguemos que aquele outro é também humano, que sente fome, frio, calor, dor? Uma vez, André Petry escreveu uma frase muito interessante: " [...] seres humanos não diferem de coisas só porque são um fim em si mesmos. Os seres humanos diferem das coisas porque, além de tudo, têm dignidade. As coisas têm preço." Concordo plenamente. Não somos objetos, coisas. Não temos preço. Somos seres que têm sonhos e anseios. Viver é, também, saber sofrer, mas não precisamos que alguém nos discrimine. Bastam as desilusões que temos diariamente.

Portanto, sejamos um pouquinho mais tolerantes e, assim, merecedores de nossa classificação como seres pensantes, seres humanos. Sei que esses preconceitos estão sendo desconstruídos. Os Estados Unidos, maior potência econômica do globo, que até a década de 1960 havia regime de segregação racial, elegeram um presidente negro. A Disney lançou recentemente um filme no qual a protagonista é uma negra do subúrbio de Nova Orleans. Alguns países já legalizaram o casamento gay, e casais homossexuais conseguiram realizar adoções. Mulheres são eleitas chefe de Estado com maior freqüência e conseguem empregos em ramos que eram exclusivamente masculinos. Contudo, essas mudanças ocorrem muito lentamente, ainda. A mentalidade conservadora de alguns e certas instituições impedem que o processo de desconstrução aconteça de forma mais rápida. Enquanto isso temos de viver em um canto escuro, onde podemos ficar imperceptíveis.

obs: Peço desculpas para aqueles que lêem o blog, se é que alguém o lê, pelo texto super clichê e entediante. Não pretendo escrever mais sobre esse assunto.


Ainda assim, eu me levanto

Você pode me riscar da História
Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui
Riquezas dignas do grego Midas.

Como a lua e como o sol no céu,
Com a certeza da onda no mar,
Como a esperança emergindo na desgraça,
Assim eu vou me levantar.

Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
Minh'alma enfraquecida pela solidão?

Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim.

Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.


Minha sensualidade incomoda?
Será que você se pergunta
Porquê eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam?

Da favela, da humilhação imposta pela cor
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.

Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.

Maya Angelou.

4 comentários:

  1. O melhor jà escrito até entäo meu amigo =D Continue assim e um dia, talvez em um dos meus ensaios ou dissertaçöes eu poderei usar a seguinte frase: Um dia ìtalo Seal disse ...

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  2. Prezado Ítalo,
    Achei muito bacana o texto, mas acima de tudo, gostaria de parabenizar sua coragem. Confesso que demorei para "sair do armário" também devido ao preconceito. Nesta importante hora de mudança em sua vida, procure ficar ao lado de seus verdadeiros amigos e busque apoios naqueles que podem, de fato, te ajudar. Recomendo a visita deste site: http://www.gaybrasil.com.br/ . Me ajudou muito nessa fase.
    Abraços de seu colega,
    Paulo.

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  3. irmaozinho, seu texto arrasou.
    Sera que terei um irmao revolucionario?
    Esse texto me lembrou sobre uma conversa de bar que tive outro dia sobre a "heteronormatividade" :p mas dps falamos sobre isso.
    Bj

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