quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Amor platônico.

Alguns dias antes de viajar para o interior da Bahia, enquanto estava sentado em frente ao meu computador, conversando no MSN; minha irmã me perguntou : "Ítalo, você já se apaixonou?". Respondi rapidamente: "NÃO!". A resposta saiu quase que de forma mecânica de meus lábios. Foi um "não" seco, ríspido. Logo depois, outra pergunta : "Se algum dia você se apaixonar, me conta? Não né?". Eu respondi, mais um vez, " Não." Ela saiu de meu quarto, e eu fiquei pensando em minhas respostas, será que aquilo que havia respondido tão prontamente verdade?

Sinceramente, não sei. Eu sou muito crítico. Acho defeitos nas pessoas. Na verdade, procuro defeitos nas pessoas, para poder comentar. E isso acaba criando uma barreira que me impede ter algum tipo de relação. Eu olho para as pessoas e faço um comentário maldoso, sarcástico, depreciativo. Raras são as vezes em que elogio alguém. Nem mesmo minha mãe, irmã ou pai fogem às minhas críticas. Não sei por que sou assim, mas infelizmente o sou. Lembro que, em uma época, eu corrigia todos gramaticalmente. Ninguém podia errar uma besteira qualquer que o erro era logo apontado por mim.

Mas isso nem é o problema maior. O pior é que, por algum motivo, não consigo conhecer pessoas novas. Sempre que me apresentam algum desconhecido, ou alguém com quem não tenho muito contato, vem-me algo e minha arrogância, que não é pouca, aflora. Como se fosse automático, não consigo controlar. Fico pedante, chato; o meu ego aumenta e sufoca todos que estão ao meu lado. O resultado é que, ao fim, não consigo conhecer ninguém novo.

E aí é que está o problema. Como se apaixonar se tenho um mecanismo que me impede de conhecer alguém que possa ser interessante? É praticamente impossível. Além disso, outro grande defeito é ser descrente de qualquer sentimento que não os meus. Honestamente, não creio em amor. Nunca acreditei. Para mim é só uma ilusão. Não posso conceber que duas pessoas se gostem tanto a ponto de se casar e viver a vida toda juntos. Para mim, é mais um convenção. Casamos porque é bonito aos olhos dos outros, mas não porque amamos. Passamos a vida ao lado de alguém por convenção, porque ficar "trocando" de parceiro ou parceira não é bem visto aos olhos da sociedade. Sei que é um pensamento um tanto pessimista, mas é no que acredito´, ou acreditava.

Há algum tempo, conheci algumas pessoas, ou uma pessoa em específico, que me fez repensar. Fiquei espantado com idéia de realmente gostar de alguém. Estaria eu apaixonado? Fiz de tudo para negar isso. Olhei para a questão da forma mais racional possível. Não, não estava apaixonado ou amando, era somente uma atração física, uma carência talvez. Mas não paixão, amor nem pensar. O problema é que o tempo foi passando, e essa minha atração não se acabou. Aí entrei em desespero. O que seria isso que estava sentindo? Uma mera atração física não poderia durar muito tempo. Resolvi livrar meus pensamentos disso e focar em uma coisa qualquer. Mas não conseguia. Tinha de admitir, estava apaixonado; eu acho.

Porém, era algo meio impossível de se realizar. Digamos que era uma utopia. A pessoa de quem gostava estava distante, inalcançável. O que eu poderia fazer? Absolutamente nada. Ficar preso a projetos irrealizáveis que eu não podia ficar. Entretanto, sentimentos não acabam quando queremos. É preciso esperar que o tempo passe, para ele ir morrendo a cada instante um pouco. Ir-se apagando, até findar por completo. Então, voltarei a meu estado de sozinho, mas feliz.


Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar,desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade.

2 comentários:

  1. Passo/passarei e estou sempre passando por momentos assim, mas ultimamente tenho tentado mudar, principalmente com esses ideias de natal e ano novo, mas acaba sempre retornando a estaca zero, o ego cresce e a humildade desaparece :/

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  2. O amor só pode dar certo se você acreditar que ele existe, que ele é possível e mais, que ele vai acontecer. Você tem que acreditar que as coisas acontecem, e não podem acontecer :) Entedi o post, e tenho até uma vaga idéia de quem pode ser que você esteja apaixonado xD

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