sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Terra.

Na planície avermelhada dos sertões nordestinos, alastra-se, por já 3 anos, uma seca implacável. Acabaram-se as plantações, quase todo o gado havia morrido. Água já não tinha mais. O sol estava a pino, alcançara o ponto máximo. O calor castigava a vida daqueles miseráveis. Ao longe, via-se uma pequena casa, o chão batido, a porta em madeira rústica. Em pé, ao lado da pequena e única janela daquela pobre residência, encontrava-se José Santos Silva, ou como era chamado por lá, “Seu Zé”. Um homem de 51 anos. Mas sua face, castigada pelo trabalho na terra ao sol quente, lhe dava uma aparência de muito mais velho e cansado.

Ainda no mesmo lugar, “Seu Zé” chama por sua mulher. Diz “vamos”. Era chegada a hora da despedida. Zé havia construído toda a sua vida naquela terra seca, com sua pequena criação de gado e o cultivo de alguns produtos agrícolas, nunca tinha pedido muito, era satisfeito com sua vida simples de sertanejo. Mas agora, o gado estava raquítico, e sua plantação não sobrevivera. A hora de se despedir de sua terra era cruel. Vivera ali os melhores momentos de sua humilde vida, se casara ali; aquilo lhe era tudo.

Era seu abrigo, seu conforto. Vivera da terra para a terra, aquela planície avermelhada e seca já fazia parte de sua vida, muito mais do que ele mesmo podia imaginar. Havia uma completa identificação entre os dois, ambos foram castigados pelo tempo, pelo sol quente, pelas chuvas torrenciais que já não mais caiam, pela seca. Eram secos. Zé nunca havia chorado em seus 51 anos de vida.

A mulher saiu de dentro de casa. Fechou-se a porta, a janela; fechou-se uma vida. Começaram a caminhar vagarosamente pelo chão rachado, o sol ia descrevendo uma trajetória sobre eles. Zé olhou para trás, fitou sua casa, olhou para baixo; as forças iam-se-lhe sumindo. Fraquejou, suas pernas tremeram, caiu na terra quente. Uma lágrima escorreu pela sua face. Olhou para a mulher e disse “Quero ser enterrado em minha terra”.

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