terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Euthymia.

Hoje assisti a um filme simples, leve, divertido, sem muita profundidade em seu conteúdo, mas que, de alguma forma, fez-me refletir sobre um de meus temas favoritos: a felicidade. Afinal, quem não deseja ser feliz acima de tudo? quem não gosta de vivenciar bons momentos, ainda que esses sejam frágeis e tão efêmeros ? A sensação de estar feliz, mesmo que por poucos minutos, é indescritível, totalizante. Sentimo-nos no topo do mundo e, naquele momento, nada nos pode atingir. Parece que estamos flutuando no ar, em uma imensidão muito vaga, mas prazerosa.

Então me pergunto: o que causa a felicidade? Seria ela ocasionada por situações vivenciadas em momentos específicos? Ou o reflexo do modo como vemos a vida? É possível ser feliz sem antes ter o referencial da tristeza? Não sei. São perguntas que me faço há tempos, sem nunca, entretanto, encontrar um resposta concreta. A cada momento acho uma coisa, mudo de opinião. Há dias em que, para mim, o dinheiro funciona como sinônimo de felicidade. Há outros, porém, em que penso o contrário. E a dúvida não pára. Ela me persegue, sempre.

Hoje, tive uma experiência peculiar. Após o filme acabar, minha colega, Isabela, chegou a minha casa. Não sei o motivo, mas a presença dela foi suficiente para me deixar feliz, sorridente. O fato de ter alguém ali era o bastante para que minh'alma fosse tomado por esta nobre sensação. Sentia-me completo. Não fiquei entusiasmado nem efusivo, mas feliz, oras. Feliz comigo mesmo. De poder ter ao meu lado uma das pessoas mais incríveis que conheci. Feliz por sentir calor, sentir o vento, sentir o suor escorrendo, por poder falar, conversar, rir, ver...feliz por poder sentir um misto de sensações que se tornavam apenas uma: a felicidade. E isso era tudo.

Depois que Isabela foi embora, fiquei sozinho. Mas aquele sentimento não me havia deixado. Fui até a sala e observei uma orquídea. Suas pétalas brancas, o caule verde, toda delicadeza refletida na mais bela harmonia entre suas partes...Naquela flor, tudo era tão puro que podia-se ver até as impurezas necessárias à perfeição. Sentir texturas tornava-me feliz. Tudo muito contemplativo. Muito calmo. Neste momento, minha felicidade não era agressiva, ela se refletia muito mais em meu interior que em meu exterior. Seria impossível que alguém notasse o quão feliz estava, apenas eu o era capaz.

Então, agora, eu me vejo em um momento reflexivo: como estes momentos pequeninos conseguiram atingir profundamente meu interior? Tenho certeza de que em outro dia qualquer teriam passado despercebidos. A orquídea da sala não é nova. Na verdade, há 1 ano que ela está lá, e eu nunca havia notado sua beleza, nunca havia tocado suas pétalas. Talvez nunca tivesse notado, também, o quanto a companhia de minha colega me faz bem, embora sempre soubesse de sua importância para mim. Tudo simples e frágil, qualquer desequilíbrio poderia quebrá-lo. Era como um vaso de cristal que está prestes a cair no chão e fazer-se em pedaços.

Bem, o vaso não se quebrou. Apenas o guardei. Ou arrancaram-no de mim? Não sei, mas aquele sentimento de outrora esvaiu-se no tempo, como o aroma das flores a dissipar-se no espaço. E tudo ficou vago. Veio a neblina. Chegou o vendaval e uma enorme cortina de poeira formou-se, mas a imagem da orquídea, com suas pétalas brancas e puras, ainda era visível. O importante é saber o caminho para chegar a ela, novamente.


Se Sou Alegre ou Sou Triste?

Se sou alegre ou sou triste?
Francamente, não o sei.
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei?
Não sou alegre nem triste.
Verdade, não sou o que sou.
Sou qualquer alma que existe
E sente o que Deus fadou.
Afinal, alegre ou triste?
Pensar nunca tem bom fim…
Minha tristeza consiste
Em não saber bem de mim…
Mas a alegria é assim…"

Fernando Pessoa.









Um comentário:

  1. "Wow look at you now
    Flowers in the window
    It's such a lovely day!
    And I'm glad that you feel the same"

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